Meruoca Selvagem: No Fogo, No Mato, Na Aventura

Serra de Meruoca - Foto de Wikiloc
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Se liga que você pode morar numa região, e não conhecer nada dela, isso tanto na natureza, como no campo ou na cidade.

Se você anda de carro, transporte coletivo (ônibus, metrô, trem etc) aí que não conhece nada mesmo.
Mesma coisa na natureza, você faz sempre a mesma trilha, aquele caminho é automático, faz até de olhos fechados né.

Pois bem, dias como hoje procuramos trilhas alternativas, aquelas feitar por animais, você segue o rastro e vai, a comédia é ser guiado pelo sol, quando consegue ver né.

Outro dia fomos para serra de Meruoca, foi uma comédia, o objetivo era explorar e procurar o que estava escondido kkk, na maioria das vezes dá tudo certo.

Já subiu a serra a pé? A velha e boa travessia. Ir sozinho pode ser um pouco solitário, mas ir com a galera é diversão garantida. Vou falar sobre esse dia.

Acordei antes do sol nascer, o dia é de explorar, deixei as coisas prontas no dia anterior, frutas desidratadas, castanhas e rapadura para não precisar parar.

A galera foi chegando e logo se ajeitando nos carros, hoje é dia de conhecer novos lugares…

Lugares que a gente vai desde criança, mas não conhece nada! Deu para entender?


Causos e boa hospitalidade na Meruoca

Nos encontramos na fazenda do seu Chico, cabra véi, gente boa, foi logo chamando para tomar aquele café da manhã com sua senhora.

O interior é bom demais. Se liga, aquele café torrado e moído, cuscuz, queijinho qualho feito em casa. Muita conversa com causos para relaxar antes da aventura.


A galera

Depois de um bom café da manhã sem pressa, todo mundo de bucho cheio. Mochila no lombo, facão nos cóis. Êi, a gente está indo para o mato, espinhos tem a se perder de vista.

Estávamos em 3, o Luizinho veio de bermuda e camiseta, parecia que ia para praia, acho que ele não entendeu que era roupa leve, mas nem tanto.

O Cid se juntou ao grupo no caminho, bicho escroto e desenrolado, nos encontramos no caminho e logo veio coma roupa do corpo. Mas ainda mais vestido que o Luizinho!

Outra coisa, mandacaru no meio da canela, passamos por uma área de lajeiros com muito, mas muito mandacaru! Coitado do Luizinho kkkk


Acampamento Selvagem na Meruoca

Subindo um pouco, fomos vendo vários olhos d’água, mas a frente encontramos um lago escondido no meio da vegetação, como ninguém lembrou de trazer o gps, continuou escondido!

Decidimos fazer o acampamento ali mesmo. Limpamos uma área legal, coita de 4 ou 5 metros quadrados, devido à época chuvosa, tudo estava meio úmido.

Usamos algumas plantas secas que colhemos no lajeiro, pedra seca rápido né!

Quando se está na pipoca, acampamento selvagem, dispondo de pouca ou nenhuma forma de fazer fogo, tem que ficar atento ao seu entorno e coletar o recurso que encontrar. Usar a criatividade. Isso é bushcraft.

Cada um foi fazer uma tarefa, eu e o Pedro fomos coletar madeira para o abrigo, Luizinho focou no fogo e o Cid, o Cid estava fazendo uma armadilha de pesca que ficou muito top!


O Abrigo

Deu um trabalho besta, da próxima vez, levo minha foice, o facão não ajudou muito, o Pedro se garantiu na madeira e eu fui tirar folhas de palmeira para a coberta.

Fizemos uma coisa simples, Pedro colocou 4 estacas com a ponta em V, colocando sobre ela outras 2 mais grossas com um leve caimento, outras por cima mais finas para vedar.

Vimos de onde vinha a corrente de vento e escoramos outras 2 para barrar. Daí colocamos varas mais finas na horizontal, amarradas com cipós e fomos colocando as folhas de palmeira de baixo para cima.

Coloquei outras varas por cima para as folhas não saírem do lugar! O abrigo ficou top, alto e nos protegia da chuva, dava para ficar até semana se preciso…


O Fogo

Como falei acima, colhemos madeira seca no caminho, para facilitar na hora de fazer o fogo, a ideia era tentar fazer fogo da forma mais primitiva possível, até porque os fósforos estavam úmidos.

Tem um truque que a gente já mostrou no Ceará Selvagem de como fazer fósforo a prova d’água, mas que nesse caso não ajudou muito. O que deu certo mesmo foi a isca de fogo.

A pederneira ajuda na faísca, mais tem que ter algo seco para queimar né. Luizinho apanhou um bocado, fez fricção com as mãos, usou um arco com cordão e nada.

Então fui até ele e coloquei um pouco da pasta na base da fogueira, só foi colocar a brasa em cima que o fogo acendeu. Rapidinho o fogo acendeu.

O segredo é ter sempre na mochila o fosforo a prova d’água e a pasta, os dois juntos fazem a mágica acontecer.

Ou tenha uma pederneira e a pasta. O lance legal do fósforo a prova d’água é que ele fica a chama acesa por mais tempo.


A Pescaria

O lago era proveniente do olho d’água, não vimos nenhum córrego de lá por diante, sabíamos que vinha do olho d’água porque ficava pingando da pedra constantemente.

O Cid plantou a armadilha lá na parte rasa do lago e batemos na água do outro lado para irem em direção da armadilha, seria mais fácil colocar uma luz no na ponta do lago e chutar os peixes para fora!

A armadilha era boa, só os peixes que eram mais sabidos. No começo achei que fossem girinos, pois não tem como peixe chegar ali, mas o que saiu de lá eram piabas de verdade

Jantar garantido, no nosso kit sempre tem uma panelinha, pelo menos para ferver a água né, porque os peixinhos foram no espeto mesmo.


O Acampamento

Quando era pivete eu caçava com meu pai. Com ele aprendi a andar no mato, a sempre está com um cantil para me reidratar. Sempre ficar atento…

Ficamos explorando por ali, colocamos a fogueira protegida para não apagar com a chuva que caia vez por outra, derrubando a temperatura na serra.

Quando a tarde começou a cair, reforçamos a fogueira e ali ficamos conversando e comendo piaba até a noite vir com um breu absoluto, saí para dar uma aliviada e não dava para enxergar nada.

O frio era cortante e a água gelada que faz gosto. Ficamos de boa, como fizemos um abrigo reforçado e estávamos perto do fogo, foi bem tranquilo

Dormi como uma pedra, e ao nascer do dia, vimos que algumas mochilas estavam reviradas. A minha estava pendurada, então passei batido. Mas a de quem não pendurou os bichos fizeram a festa!

A gente sempre sugeri pendurar as mochilas, mas ô pessoal teimoso!

De manhã colhemos uns cocos babaçus e como nobre cavalheiros tomamos chá de ervas que o Cid colheu no mato!

Levantamos acampamento e continuamos na aventura pela serra de Meruoca. Ou seja, vai ter continuação!


Conclusão

E assim, entre risadas, espinhos e piabas no espeto, a galera provou que aventura de verdade não precisa de luxo – só de coragem e um facão no cós!

A Serra de Meruoca mostrou seus segredos: lagoas escondidas, mandacarus traiçoeiros e noites tão frias que até as estrelas tremiam.

O abrigo de palmeira virou castelo, o fogo de pederneira virou farol, e a armadilha de pesca… bom, pelo menos a tentativa rendeu história!

Mas o melhor mesmo foi a lição: na selva (ou no mato cearense), quem desiste do fogo ou pendura a mochila errado vira jantar dos bichos.

E no fim, entre coco babaçu e chá de ervas colhidas na hora, a gente lembra que aventura não é só sobre chegar – é sobre rir dos perrengues, dividir a rapadura e dormir como pedra, mesmo com o barulho do vento assoviando no ouvido.

Meruoca guarda mais mistérios? Claro! E a gente volta para contar. Até a próxima, se o Luizinho lembrar das calças!


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Se liga, quando você conhece as Pancs, sua experiência alimentar muda. Seu cardápio muda junto e a natureza te dá tudo que você precisa para se alimentar em ambiente selvagem!

Quer mais dicas como essas? Então cai dentro!

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